No 6º desafio, a minha mente brilhante saiu-se com esta... (aguardemos pela da Carlinha do DESCOMPLICÓMETRO).
Recordar
e escrever sobre uma das suas mudanças de casa.
Hoje estou sozinha: quero ser ilha e que a minha
pele não (te) sinta. Hoje sou apenas eu despida de ti; sou um holograma, um
mero apartado, um remetente pouco fidedigno - estou cansada de tantos “eus”.
Seis – 6 mudanças de casa, tantas quantos os amores.
Morei em T0 e T1 alugados, falei francês, construí uma casa de sonho, partilhei
um BMWX5, roubei bicicletas e acampei
à luz da lua. Seis vezes encaixotei a minha vida - suor, coragem, paixão, desilusão,
irreverência, alegrias, luto e tudo o resto de que são feitas as vidas
(diamantes e cascalhos). Deixei e trouxe retalhos de respiração – do Paulo, do
Zeca, do Augusto, da Teresa, da Luísa e, agora, do Jorge – serão os últimos
(tantas certezas que o álcool nos dá).
Regressei à casa dos meus pais. Conscientemente, num
acto de (pouca) afirmação, voltei a fumar (que fraca que sou) - agora, num
canto de um paralelepípedo cheio de nada e de pó, treze anos volvidos, percebo
que não cresci (o mesmo Nº 36 de calças da ZARA):
estou sozinha por opção – bem que poderia ter mudado este destino com um tiro
certeiro de caçadeira (nele, nela ou em mim?). Petrificada, ainda espero o
amor-perfeito, aquele ou aquela que me fará prescindir dos papelões da IKEA, da fita adesiva castanha, dos
contentores e das empresas de transporte: anseio o último (des)encaixotar,
nunca mais estrear lençóis novos ou ter que fazer cópias de chave. Anseio olhar
(para ti) e sentir o piscar imediato de um néon pimba dizendo “CASA”. Contigo
tive a última oportunidade.
A garrafa de whisky
já vai a meio (onde estará o isqueiro?) e, do chão, onde me encontro, os
caixotes áridos parecem-me prédios abandonados de uma Nova Iorque sonhada: uma,
duas, três, … tantas caixas cheias de nada que chega a ser vergonhoso; olhando os
seus reflexos na janela - inebriada, a tender para o coma - já não sei se está
na hora de as abrir ou se as acabei de fechar.
“(…) Feels like I'm knockin' on heaven's door
Knock-knock-knockin' on heaven's door (…)”
Knock-knock-knockin' on heaven's door (…)”
(Voltei a fumar, porra!)
Numa alucinação auditiva, encontro José Régio - “Não sei por onde vou, não sei para onde vou”
- e, em apneia voluntária, escorrego da varanda. (Os meus pais viviam no 17º
andar.)
Foi este o sonho macabro
de que te falei, Duarte (…) Sinto-me uma felizarda por irmos viver juntos!
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