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Liste 10
razões para nunca escrever a história da sua vida. Depois escolha uma e
explore-a.
1.
Eu não a quero contar;
2.
Vocês não a querem ouvir;
3.
Sff. ver item Nº2;
4.
Conf. item Nº 1;
5.
Porque não e pronto;
6.
Idem;
7.
Aspas;
8.
Outra vez?
9.
Não conto. Caluda.
10. Ponto final.
Razão
Nº2:
Vocês não querem ouvir que nasci num dia igual aos
outros, depois de mais ou menos 40 semanas no útero de minha mãe e que resultei
da fusão de um óvulo com um espermatozoide aleatório do meu pai (aposto que se
rompeu a borracha). Não querem saber que nasci com 2500g, sei lá quantos cm
(telefono à minha mãe?) e que, já na altura, não devia nada à beleza. Mudariam
logo de canal se começasse a dizer que fui filha única dez anos, mimada até à
má-criação e que bastava apontar o indicador para ter tudo o queria. Não estão
interessados em conhecer – e, por isso, nem eu interessada em contar - que
passei pela fase de maria-rapaz (passei?), com corte de cabelo à tigela e que
usava sandálias com meias brancas até ao joelho. Não querem, de todo, saber que
a partir da adolescência (menstruação, estrias e acne a partir dos 13 anos) fui
engordando como um elefante, característica que até hoje me define, e que a
primeira relação sexual foi aos 16 anos, como “prémio” (prémio?) de uma aposta
entre rapazes (todos feios e mal cheirosos – viesse o Diabo e escolhesse). Não
vos digo, pelo motivo já esclarecido no Nº 2, que não quis ir para a faculdade,
que acabei o 12º ano com média de 14 valores e fiquei em casa a receber o
rendimento mínimo e sempre que me chamam para entrevistas arranjadas pelo
centro de emprego, masco descaradamente pastilha elástica e faço questão em
tirar um ou outro “macaco” do nariz e dizer que tenho um filho menor (mãe
solteira, obviamente) que está sempre doente, que apanha as viroses todas da creche:
(por isso) nunca trabalhei. Também nunca fiz nenhum filho, escrevi um livro ou
plantei uma árvore. A história da minha vida vale zero; eu não a quero contar -
(porque) vocês não a querem ouvir.
PS: Não digo, porque ninguém quer saber, que andei
dois anos a levar apalpões e beijos na boca da prostituta (e puta) da freira da
catequese. Juro que não digo. Chiiiiiiu. Caluda.
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