Qual será
a cor da revolta? Escreva sobre ela.
(Não tenho dinheiro. Estou
desempregada.)
Revelo tudo
desta experiência a troco de três reivindicações. Submeti os sentimentos ao
espectrofotómetro e descobri a sua cor. Fiz uma lista, um TOP 5 que um
“Era uma vez um Portugal” sentiria, se pudesse sentir: comecei pela REVOLTA.
Pensei em situações de vida e de não vida, nas pessoas e nos outros: chorei um
Portugal que um dia foi um País, e na revolta comedida e remediada da maioria
dos portugueses, nos quais me incluo.
(Preciso de dinheiro; sou capaz de o roubar
– vender o corpo, é que não!).
Desprovida
de emoção, examinei-a: a minha retina transformou-se num Prisma de Goethe e vi,
por espectrofotometria, a cor da revolta
– três segundos de pura revolta colorida. Tantas horas se passaram… a pão e
água, a água (só)… Por fim, a descoberta do século: será uma revelação
surpreendente, com transmissão em direto para o mundo - esqueçam as outras duas
exigências, basta-me dinheiro. A veracidade do resultado é inquestionável e um
milhão de euros por uma descoberta deste calibre é uma pechincha – ofereço a patente.
AZUL. Não,
esperem! Queria antes dizer: verde (Sporting); minto – vermelho (Benfica!).
Azul? Estarei só eu confusa ou apenas a tentar endrominar-vos? Enquanto eu não
revelar a minha descoberta, persistirá a completa desgovernação, toda uma
Bandeira enxovalhada à espera de salvamento. Abro a janela para desanuviar o ar
e pressinto uma hipoglicemia: tonturas e suor (e outra lágrima). Se for preciso
mentir, eu minto (nunca acreditem nos mentirosos), mas por um milhão de euros
eu conto tudo e nunca mais ouvirão falar de mim. Palavra de honra que não.
Apanho um avião – desses que ainda voam – e ponho-me a milhas daqui. Vender o
corpo é que não.
(Amanhã é dia de pagar a prestação da casa.
Não me lixem).
Para não
deixar pistas, rapidamente desmonto o arsenal de aparelhos e queimo os
rascunhos dos cálculos que fiz para as experiências-teste. Sorrio-me: neste
momento sei de coisas que mais ninguém sabe. Imagino champanhe nos tubos de
ensaio e brindo a mim. Dispo a bata, fecho a porta do laboratório clandestino –
um quarto na minha casa - (duas voltas e o trinco de segurança) e assobio de
mim para mim o Trem das cores de
Caetano Veloso, tentando controlar a taquicardia, normal, quando se acabou de
fazer uma descoberta que nos fará – e à humanidade - mudar de vida.
(Tenho fome.)
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