Este foi o desafio de que menos gostei. Pensei, pensei, pensei e, como tinha que ser, foi! A Descomplicómetro tem uma versão de excelente qualidade. Confirmem!
A
beleza chora até morrer. Explore a metáfora (máx. 400 palavras)
O puto regressa da escola com a tarefa de explorar a
metáfora: “A beleza chora até morrer”. Conseguem imaginar o meu pânico? Eu,
doutorada em Física Quântica (o meu alfabeto são os números), avessa às Letras
desde que me conheço, ter que ajudá-lo neste trabalho? (O meu marido – o
habitualmente responsável pelo apoio aos TPC’s – está em comissão de serviço, em
Angola. Sou mãe e pai).
- “Não vou ser capaz!” (Pensei eu, tentando
disfarçar a frustração perante o expectante miúdo de dez anos, mas sem
conseguir evitar um ego abalado.)
- “Mãe, devemos escrever entre 200 a 400 palavras.
Não percebo bem: como é que a beleza chora?”
Rai’s partam o maricas do professor de português:
ele que filosofe sobre o assunto, que assuma que tem mais estrogénios do que
tomates (eu já ouvi muitos boatos), que mostre de vez o rosinha que há em si, e
não me venha chagar o juízo com merdices destas. Eu sei lá porque é que a
“beleza chora”.
- “Vamos ao bowling, filho, esquece isso.” (Apetece-me
dizer.)
Porque ela é
parva? Porque não sabe que mais vale um pássaro na mão do que dois a voar?
Porque é fraca, mimada? Porque passa fome para atingir o índice de massa
corporal da subnutrição? “(…) chora até morrer.” – Claro está, deve sofrer de fibromialgia,
ser deprimida, e, humana que é, morre como os outros - os feios (uns choram,
outros não), porque todos morrem. A beleza chora até morrer. E daí? O que
querem que eu faça? E a fealdade, ri?
- “Dediquemo-nos, então, ao teu TPC…”. (Sentamo-nos
à secretária).
Já
disse que sou Professora no Instituto Superior Técnico? Que oriento teses sobre
micropartículas, sobre senos e cossenos, estudos com equações que só 1% das
pessoas no mundo consegue resolver, que tenho dezassete artigos publicados em
revistas internacionais? Ah, pois é! E não, não quero que o meu filho escolha a
área das Letras, que é desemprego na certa e meio caminho andado para ficar
gay. Que seja economista, gestor, engenheiro ou médico; – o que é que interessa
saber se a beleza chora ou se ri até morrer? Não morre na mesma?
-“ Zé, vamos jantar ao MacDonald’s e amanhã fazemos
isso. Temos o fim-de-semana todo, não é”?
- “Boa ideia, mãe”.
Amanhã hei - de soltar a Margarida Rebelo Pinto que
há em mim…
(Puta que os pariu.)