Às 7:00 toca o despertador (isso se já não tivermos sido despertadas pelo
mini-despertador ambulante lá de casa, que poderá ser, por exemplo, um loirinho
de 2 anos: o dia começa). Por mais que apeteça continuar na cama, a Segurança
Social não cobre as Baixas postas por motivo de preguiça (pelo menos não
deveria…). As mulheres que cumprem esta tríade sabem bem ao que me refiro (as
que não, ou não perdem pela demora, ou então deixem-se estar sossegadas!) – a
primeira hora da manhã de todos os dias da semana é comparável (tendendo para
pior!) ao reboliço vivido nas horas que antecederam o 25 de Abril; e nós,
(super) mulheres, sobrevivemos, dia após dia. Cá estamos. Lindas e, para além
disso tudo, tentando, a todo o custo, manter um índice de massa corporal que não
seja comparável ao das focas ou baleias.
Nesta primeiríssima hora do dia já fomos mãe (o puto ainda não come, não se
veste, não lava os dentes, não se penteia sozinho), mulher (lembrámos o marido
das coisas imprescindíveis que lhe competem fazer naquele dia – normalmente só
uma – como não se esquecer de ir buscar o miúdo à creche e não será muito boa
ideia ir de pijama para o trabalho, com cabelo por lavar de há 3 dias e sem
BBcream* na cara, que sempre nos dá um arzinho mais apresentável em menos de 1
minuto – a falta destes dois últimos parâmetros não faz parte da listagem dos
motivos de despedimento por justa-causa, mas não dará muito boa impressão - e,
apesar do marido rotineiramente mal reparar quando regressamos a casa formosas
do cabeleireiro, e o dizer “estás linda” já quase ser como a mensagem automática
do telemóvel que diz “estou em reunião”, no dia em que nos distraímos e deixamos
aparecer a raiz escura no louro supernatural pintado há 2 meses, ele franze a
testa. Posto isso, há que fazer o jogging matinal (do parque de estacionamento
para a nossa secretária) e picar o ponto antes das 9:00 para não sermos chamadas
à Administração (e fazer tudo isso sem cheirar a sovaco no final do dia, é,
obviamente, condição sine qua non).
Avante. Esta tríade mãe-mulher-profissional até poderia ser levada de forma
leviana e cumpriríamos com os três requisitos quase com uma perna às costas (e
ainda ter um tempinho livre para ir ao ginásio melhorar a flexibilidade e a
resistência), mas, o que vem complicar um pouco a questão é que ser mãe, não é
só ter um filho; ser mulher não é só ter aliança e recordar o dia da boda; ser
profissional não é só picar o ponto: ser mãe-competente, mulher-apetecida e
profissional-empenhada, esse sim, é o nosso desafio diário – é aquilo a que
chamo de “o outro lado do Sexo e a Cidade”. Digo, já a caminho dos 3 anos de
experiência, que é uma tríade possível. Àquelas que agora começam, não desanimem
(as outras sabem a que me refiro: parece que se morre, mas
sobrevive-se!).
“After all, computers crash, people die, relationships fall apart. The best
we can do is breath and reboot.” (Carrie Bradshaw, in Sex and the
City).
À mulher na casa dos 30 tudo é permitido (tudo é exigido): já deverá ser
suficientemente madura mas ao mesmo tempo ainda suficientemente jovem; no
trabalho, já tem subalternos a quem dar orientações, mas continua com os chefes
que lhe relembram que “tudo é para ontem”; em casa, na melhor das hipóteses,
espera-a um marido que pretende ascender na carreira (e, claro, se não for agora
não há de ser aos 50, de bengala) que se empenha na formação extralaboral (com o
desemprego como alternativa…), a(s) criança(s) dependente(s), uma Bimby que
ajuda, mas não faz milagres, o pó que se acumula, o frigorífico que se esvazia à
velocidade da luz, as contas que aparecem antes do ordenado, os extras, as
solicitações dos amigos (que ainda bem que as há), isso tudo a juntar aos dias
iguais aos de toda a gente – de apenas 24 horas – (ah, há também o facebook) que
fazem com que não haja espaço para “baixar os braços”. Com tudo isso, uma das
grandes vantagens – há muitas outras, garanto! – não há crise (Troika) que nos
derrube porque simplesmente não há tempo para pensar nela.
Hoje não é “O” Dia Internacional da Mulher (assinalado religiosamente no
calendário das Nova Iorquinas a 8 de Março, desde 1857) mas foi pensando em
alguns exemplos de mulheres-mães-profissionais que me rodeiam - para além de mim -, que decidi deixar
estas linhas – foi por isso e para relembrar às pessoas que em tempos difíceis,
nunca nos poderemos esquecer que, quando tudo o resto já foi feito, o melhor a
fazer é, como diz a Carrie**, “respirar e reiniciar”. Sempre. (Entretanto,
enquanto escrevia este texto, já mudei uma fralda, pûs roupa a lavar, alinhavei
o almoço e fiz a recolha selectiva do lixo para o homem ir pôr nos
contentores).
BOM DIA! Às 7:00 toca o despertador…
(Nota: *BBcream – creme hidratante da face com cor; **Carrie – personagem
principal da série “Sexo e a Cidade”).